Érica Monteneia
Diretora Técnica na Ematos Consultoria em Seguros
07 de Julho de 2024
Empresas de seguro que atuam no Rio Grande do Sul já receberam 23.441 comunicados de acidentes decorrentes dos efeitos adversos dos temporais que atingem o Estado desde o fim de abril. Segundo a Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), somados, os avisos de sinistros já ultrapassam a casa dos R$ 1,67 bilhão a serem pagos em indenizações, mas ainda estão muito distantes de representar a real dimensão dos prejuízos da catástrofe.
Fonte: Agência Brasil
Diante desse cenário catastrófico convidamos Érica Monteneia para abordar os possíveis impactos diretos ou indiretos dos avisos de sinistros no mercado brasileiro de Seguros de Cargas (Transporte e Armazenamento).
1. Redação: Érica, Quais são os principais impactos da crise climática no Rio Grande do Sul que afetam o mercado de seguros de cargas?
As fortes chuvas no Rio Grande do Sul provocaram inúmeros transtornos, danificando veículos e afetando exponencialmente locomoção em vias importantes para a logística de transportes no Brasil. Um levantamento do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) aponta que, até o dia 15 de maio, 13 pontos nas BRs-116, 287, 386, 470 e 472 estavam totalmente interditados devido aos eventos climáticos.
Apesar de ser considerado o maior evento climático ocorrido desde 1941, os seguros de transportes, não sofreram tanto impacto, pois as coberturas securitárias comercializadas para o seguro de cargas são mais restritivas e possuem excludentes para este tipo de evento.
O seguro transporte, contratado pelo embarcador, ou seja, o proprietário da carga, tem cobertura para casos de inundações ou correntezas, fazendo parte da cobertura básica, a chamada all risks. Enquanto isso, os seguros, contratados pelas transportadoras, não possuem esse amparo, uma vez que são eventos cuja responsabilidade não pode ser atribuída a elas.
Em caso de transporte de mercadorias perecíveis, se estragarem por conta do atraso provocado pelos bloqueios, não há cobertura.
Outros ramos de seguros foram mais impactados, como o seguro de automóveis, os seguros agrícolas e também os seguros de garantia contratual. Podemos ressaltar também os seguros empresariais, mas infelizmente, pela falta de cultura de seguro em nosso país 85% das empresas atingidas não possuíam seguro para este tipo de risco.
2. Redação: De que forma as seguradoras estão se adaptando para lidar com os novos desafios impostos pela crise climática no Rio Grande do Sul?
O Principal desafio causado pelas enchentes do RS, foi a comunicação dos embarques antecipadamente, como exige a legislação para os transportadores, e também com a expiração do prazo de cobertura securitária para os seguros de embarcadores, exportadores e importadores.
Neste caso, as principais seguradoras que operam com os seguros de transportes, flexibilizaram as regras, aceitando a comunicação após o início da viagem e a dilação do prazo de cobertura para no mínimo 60 (sessenta) dias.
Esse evento trouxe a necessidade de nosso mercado de seguros aderir a coberturas específicas que já são comercializadas internacionalmente, como coberturas para atraso nas entregas se qualquer dano externo as mercadorias e coberturas para armazenagem por período ilimitado, garantindo que eventos como este tenham amparo securitário.
3. Redação: Quais são as principais tendências e mudanças nas apólices de seguro de cargas em resposta aos impactos da crise climática naquela região?
Posso citar algumas como a democratização dos seguros, com a ampliação da arrecadação de prêmio, atraindo os potenciais clientes que ainda não possuem seguro, além disso, o aumento da contratação de empresas terceirizadas para agilidade no atendimento emergencial e aumentar a facilidade na acessibilidade e comunicação com a seguradora para quaisquer atendimentos emergenciais.
Em contrapartida temos também a retração do mercado com algumas seguradoras se retirando destes riscos, como tivemos com algumas seguradoras da Califórnia, por exemplo, que não aceitam mais a contratação de seguro incêndio para novos riscos.
4.Redação: Como a análise de riscos e precificação de seguros de cargas está sendo ajustada para levar em consideração os impactos no Rio Grande do Sul?
Mesmo considerando que os seguros de transportes não foram os mais impactados com as enchentes do RS, tivemos alterações consideráveis que acabam impactando na subscrição de risco de transporte, pois tivemos alterações de rotas e dilação das viagens.
Na subscrição dos seguros de transportes, a frequência e intensidade com que os desastres ocorrem, bem como a proporção do país exposta são avaliadas, pois quanto maior a exposição, maior será o impacto econômico potencial na economia. Todos estes detalhes são analisados para chegar a um preço compatível com o risco.
Com base nestas condições, surgem diferentes realidades de cobertura do seguro contra desastres naturais no mundo, cito alguns exemplos:
A enchente em riscos residenciais está coberta por esquemas públicos nos EUA e na França, mas com alcance diferente, e na Alemanha a cobertura de seguro é assumida inteiramente pelo setor privado.
Na Espanha, o Consórcio de Compensação de Seguros protege os segurados contra a maioria dos eventos desta natureza. Trata-se de um órgão público financiado pela contribuição de uma pequena porcentagem de cada seguro contratado e esse é um caso de sucesso reconhecido internacionalmente.
5. Redação: Quais são os desafios enfrentados pelas seguradoras na avaliação e gestão de riscos associados aos eventos climáticos?
O maior desafio que nosso mercado securitário enfrenta é a falta de histórico detalhado destes eventos climáticos durante os últimos anos.
A análise em massa de dados permite que as companhias de seguros analisem grandes volumes de informação proveniente de diversas fontes, como, por exemplo, dados meteorológicos, registros de sinistros ou comportamentos de consumo. Esta capacidade de análise profunda facilita a identificação de padrões e tendências que, de outro modo, seriam difíceis de detectar.
Assim, as seguradoras podem ajustar seus modelos de risco para refletir de maneira mais precisa as condições variáveis do ambiente e antecipar eventos com maior exatidão.
Em resumo, a inovação constitui um pilar fundamental para que as seguradoras façam uma melhor gestão dos recursos e, sobretudo, proporcionem um melhor serviço aos clientes.
6. De que forma as seguradoras estão colaborando com outras partes interessadas, como órgãos governamentais e empresas, para mitigar os impactos da crise climática no mercado de seguros de cargas?
O mercado securitário nacional corrobora de forma efetiva com a União, tanto com o compartilhamento de dados apurados, como também com sugestões de implantação de legislações que auxiliem o mercado securitário.
Exemplo disto, é projeto apresentado à câmara dos deputados pela CNSEG de um Seguro Social. O projeto aborda o Seguro Obrigatório de Catástrofes decorrentes de inundações, alagamentos ou desmoronamentos relacionados a chuvas. Ele oferece cobertura para danos materiais, indenização emergencial e auxílio funeral para as vítimas desses eventos.
Erica MonteneiaProfissional com 32 anos de ampla experiência em negociações e análises técnico- comerciais de seguros diversos, principalmente a subscrição de riscos de ramos elementares. Membro do corpo docente da FUNENSEG desde 1995, ministrando as disciplinas de seguro garantia, transportes, Riscos Diversos, Aeronáuticos, Responsabilidade Civil, Cascos Marítimos, Teoria Geral do Seguro, seguro de Automóveis, Seguro de Fiança Locatícia. Responsável pelo treinamento do corpo funcional de Seguradoras e Corretoras de Seguros.
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